terça-feira, março 29, 2011

Necessidades

Francamente, eu já não fazia idéia do que estava acontecendo comigo. Sem olhar para Zafrina, retomei a minha costumeira postura e me retirei do barzinho. Levantando a gola da jaqueta e colocando as mãos nos bolsos, sai para a noite fria e escura. Estava escuro demais para que qualquer humano pudesse enxergar, mas para mim o fraco luar parecia a luz do sol descendo por entre as árvores. Zafrina não me seguiu. Voltou a entrar no barzinho. Afinal, ela ainda não havia se alimentado.
A noite ainda era minha aliada. Começo a caminhar e sinto o meu corpo pedindo por sangue. Quanto mais penso nisso, mais começo a salivar.
Não faz muito tempo que sou o que sou. Tudo poderia ter sido diferente se eu não tivesse cedido aos pedidos daquela bela moça com pele tão pálida. Admito que me deixei enganar por Sophia; porém não me arrependo. Na hora entrei em pânico, como qualquer outro. Mas depois da mordida, sentindo o sangue que ela me obrigara a tomar, o seu próprio sangue, senti-me livre daquele mundo de confusões. Eu estava livre.
Enquanto andava, lembrava-me das muitas pessoas que já havia matado… Senti-me eufórico. Eu queria matar! Queria poder sentir o sangue sobre os meus lábios. Imaginei dobrar a esquina, atraindo uma garota qualquer comigo. Sugar-lhe o sangue… Era uma coisa que eu adoraria fazer naquele momento.
Mas então, por que eu não conseguira deixar que Zafrina matasse Rebecca?
Por que eu não consegui atraí-la para algum beco e matá-la?
Balancei a cabeça, confuso. E quando ergui os olhos, vi ali, escorada em um prédio alto, uma mulher alta, em seus trinta anos, mais ou menos. Os cabelos louros estavam soltos. Ela vestia um sobretudo cinza, e também tinha uma manta em volta de seu pescoço. Ela ascendia um cigarro, com as mãos trêmulas devido ao frio.
Sorri ao aproximar-me.
– Olá!
– Olá! – respondeu ela, após, finalmente, conseguir acender o cigarro. – Não está muito tarde para um garoto da sua idade andar por aí sozinho?!
– Ficaria surpresa com o que um garoto da minha idade é capaz de fazer!
– Ora, garoto! Não me venha com essa, ok? Vai arrumar uma garota da sua idade para paquerar! Não tenho tempo para ficar aqui fazendo joguinhos com você!
Ela começou a afastar-se, mas impedi-a. Segurando-lhe pelo braço e fazendo-a virar-se para mim.
– Hei! Me deixa ir, seu pirralho!
Arremessei-a contra a parede do prédio. Ela bateu com força e depois caiu sentada. Agachei-me ao seu lado e tomei-lhe o braço, levando-o até meus lábios. Cravei meus dentes na veia do seu pulso direito, apertando-o contra minha boca, para que seu sangue jorrasse com maior facilidade. Uma sensação maravilhosa tomou meu corpo quando senti seu sangue quente pingar em minha boca… Aquele líquido quente e escarlate alimentava a minha mais louca e perigosa nacessidade.
E a partir daí, iniciou-se o meu lanche da meia-noite.



- by Nique -
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domingo, março 27, 2011

Quem é você?

Muitas vezes eu presenciei ataques, mortes, entre outras coisas. E em muitas delas eu era o caçador. Eu gosto, confesso. Divertia-me com os gritos, com a agonia, com o poder, a dominação que lhes era imposta por nós. Mas ali, naquela hora… Algo havia mudado em mim. Receio que, após ver Sophia morrendo na minha frente, sem poder fazer nada para impedir… Eu não podia continuar ali, parado, vendo Zafrina ir à direção daquela garota, salivando por seu sangue, sua vitalidade…
Não seria eu mais o mesmo?
– Zafrina!
Ela parou á alguns passos á minha frente. Virou-se para me encarar. E o sorriso zombateiro em seu rosto fez-me sentir um idiota por fazer tal coisa.
– Sim?
– Você deixaria que um velho amigo apreciasse o melhor produto, com um presente de boas-vindas?
Ela olhou para a garota, parada a alguns passos de nós. Depois se voltou para mim, sorridente.
– Mas é claro que sim! Divirta-se!
Forcei um sorriso, agradecendo-lhe. E ela voltou a escorar-se no balcão, observando-me.
Atravessei o salão. Indo na direção da garota, mas parei ao seu lado.
– Pode me conseguir uma água? – pedi ao barman na bancada, em que a maioria dos jovens estavam escorados.
Ele concordou e saiu. Pude sentir os olhares das garotas sobre mim. Era fascinante como o simples fato de estar morto trazia para mim inúmera coisas que os simples mortais desejavam, mas não conseguiam com tal facilidade.
Arrisquei um simples olhar: todas ali sorriam para mim.
A garota morena colocou-se entre mim e a ruiva.
– Olá! – cumprimentou-me.
Não respondi.
Eu sabia exatamente o que fazer: olhei para a garota ruiva, bem dentro de seus olhos verdes como esmeraldas. Eu não saberia dizer qual seria o nome dela. Mas não foi difícil descobrir seu apelido, pois o garoto imaturo não parava de repeti-lo: Becky.
– Olá!
A morena fitou a amiga, boquiaberta. Olhava de mim para ela, e depois saiu bufando, irritada. Becky não respondeu. Apenas acompanhou a amiga com os olhos, depois os abaixou para seus próprios pés.
– Acho que sua amiga ficou chateada. – continuei.
– Ela vai superar. – ela sorriu, olhando para mim. – Sou Rebecca!
– Sylas. – falei, aceitando a garrafa de água que o barman me entregava.
– Nome diferente. – ela murmurou.
– Conheço pessoas com nomes mais engraçados que o meu.
– Seu nome não é engraçado. – ela protestou. – É legal, apenas… diferente.
– Eu sou diferente.
– Mesmo? Eu também.
Não entendi o que ela quis dizer com aquilo. Fiquei ali, paralisado, fitando-a. Em que sentido ela seria diferente? Saberia ela sobre o que eu me referia?
Após um minuto, ou talvez dois… Não sei dizer. Ela sorriu. Seus lábios pareciam terem sido desenhados em seu rosto, de tão suave que lhe era a expressão. Trazendo-me a mente uma imagem semelhante, onde Sophia sorria animada e despreocupada. Andando levente pelos aposentos, como se nada pudesse abalá-la ou... Balancei a cabeça, confuso, e lancei um olhar para Zafrina.
Um terrível erro, devo dizer.
Ela estava lá, observando-me. Quando a vi, ela acenou para mim.
– Sua amiga se veste de uma maneira estranha, não?
Voltei-me para Rebecca. Surpreso.
Certo. Zafrina não é bem o tipo que tenta parecer um humano normal. Ela ainda se veste com as mesmas roupas de sua época: vestidos longos, espartilhos, e todos esses outros acessórios. Muito discreta, não? Mas ela ainda se achava na moda. Por mais que naquela noite usasse a "moda" de uns sete anos atrás.
– Ah, Zafrina?! Ela é obcecada pela moda antiga! Ninguém consegue fazer com que ela tente se atualizar.
– Zafrina? – ela olhou curiosa para o outro lado do salão. – Ela é um dos seus amigos de nomes engraçados?
– É. Ela é sim. – sorri.
– Tem razão!… São realmente engraçados. – ela riu.
– Becky, já estamos indo! – a garota morena aproximou-se de nós. – Vamos?
– Ah, claro! – ela respondeu, em seguida virou-se para mim. – Foi bom falar com você, Sylas! Até outro dia.
– A gente se vê... – murmurei atônito.
Depois ela saiu. Acompanhando seus amigos. Saindo para a noite. Andei até a porta e parei. Pude ouvir o uivar da noite, juntando-se ao vento que lhe soprou os cabelos. Mas ela não olhou para trás.
Em que sentido ela seria diferente?
Zafrina parou logo atrás de mim, rindo, divertindo-se.
– Você está enferrujando, Sylas? Precisa de mais prática, não?!



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quinta-feira, março 24, 2011

A caça

Eu gostava de manipular minhas vítimas. Fazer com que viessem até mim, sem nem mesmo precisar correr atrás delas. Tinha conhecimento do meu poder: a sedução. Talvez por isso, na busca de voltar a fazer o que fazia de melhor, eu tenha me interessado pelo grupinho de amigos reunido em frente a um barzinho. Apesar de não ser permitido, vivia lotado de jovens que consumiam todo tipo de bebidas alcoólicas. Mesmo em dias de semana, o bar permanecia aberto até as três da manhã, ainda mais nestas noites, nas quais o calor predominava. Noites propícias para caçar.
Enquanto observava o grupo de amigos que bebiam e davam risadas exageradas, avistei mais ao canto, uma mulher. Reconheci-a imediatamente: Zafrina.
Eu não era o único á procura de comida.
Quando me viu, seu rosto transformou-se em uma expressão de surpresa. Mas apenas por um segundo. Logo ela exibiu um sorriso malicioso, pousando o copo que segurava sobre uma bancada, e aproximou-se de mim com passos lentos e graciosos.
– Ora, ora, ora… Quem é morto sempre aparece, não é?
– Velha piada, Zafrina! Velha piada. – murmurei.
– Mas não é que você continua o mesmo? Queria poder ser como você, Sylas! Isolar-me por meses e ainda continuar bela. Fresca.
– Estou assim? – indaguei. – Sinto-me doente, fraco… Como poeira!
– Normal, não? – ela sorriu. – O que o trouxe aqui? Não venha me dizer que foi sede, pois eu sinto sede todos os dias, e você passou meses…
– Eu conheço a história, Zafrina. Obrigado. – interrompi-a.
Sua voz pode parecer doce para qualquer um, até mesmo agradável. Mas, para mim, ela era enjoativa, cansativa demais para que eu pudesse ouvir mais que três das suas palavras.
Ela disfarçou o desagrado. Não iria render-se tão facilmente. Pior para mim, pensei.
– Então? Quem será a sua escolhida? – ela indagou, olhando para as jovens garotas á nossa volta.
Todas deveriam ter por volte de uns dezessete, dezoito anos. Jovens, belas, esbanjando vida.
E Sophia morta. Reduzida á cinzas.
Balancei a cabeça, tentado afastar as lembranças.
– Se quiser a minha opinião… – ela continuou, ignorando meu silêncio. – Sou a favor da ruiva. Aquela ali...
A garota era magra, com feições miúdas. O cabelo era ruivo e ondulado, passando um pouco dos ombros; usava uma jaqueta preta e uma calça jeans. Ela ria, como os outros. Mas não segurava copo algum, diferente de todos ali presentes. Ela se divertia, era visível. Conversava animada com uma garota, provavelmente sua amiga. Esta era alta, com a face coberta de maquilagem, destacando-lhe o rosto em meio aos cabelos negros. Mas a ruiva também se esquivava de um dos garotos. Ombros largos, aparentando maturidade; mas seus atos revelavam-no um ser desprezível. Imaturo. Bêbado, talvez... não sei dizer. Ele aproximava-se dela, cambaleando. Dizendo coisas idiotas, tentando fazê-la rir. Mas ela o encarava, aborrecida.
Eram os únicos momentos em que não sorria: quando ele aproximava-se, tentando inutilmente fazê-la divertir-se com sua companhia.
– Gostou dela, não foi? – sussurrou Zafrina, em meu ouvido. – É perfeita! 
– Não, não é.
– Ora, Sylas! Não tente fingir-se de bonzinho… Você não o é! – ela riu, satisfeita.
– Ela pode ser perfeita, Zafrina. – continuei. – Mas não é o que procuro hoje!
– Que pena! – ela suspirou, irônica. – Para você. Pois ela é exatamente o que procuro hoje! – com um impulso gracioso, ela lançou-se para o meio da pista. Sorrindo como sempre.



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sábado, março 19, 2011

Estou de volta


Eu não me importava mais com o pôr-do-sol, ou os benefícios que ele me trazia. Não me importava mais com as muitas pessoas que provavelmente andavam, a alguns metros, sobre o meu corpo. Não me importava com mais nada, absolutamente nada, além do estranho mal-estar que eu sofria. Em silêncio.
Meu corpo deveria estar deitado lá embaixo, parecendo o corpo de uma pessoa morta, em decomposição, ou qualquer outra coisa do tipo. Pois minha pele é muito branca, e extremamente gelada. Minhas roupas também não estavam nos seus melhores dias. Mas eu não estava morto — quer dizer, não exatamente — Só estava adormecido. Tentando me isolar ao máximo daquela rotina que atraía tantas outras pessoas — iguais ou diferentes de mim — Tanto faz.
Não me lembro exatamente á quanto tempo eu já estava lá. Pensando agora, acho que fiquei dois meses. Eu gostaria de poder passar a eternidade lá, sem me mover. Mas meu corpo necessitava de alimento, e eu precisava voltar a minha não-vida.
A noite estava bela. Banhada pela escuridão e, ao mesmo tempo, com seus milhares de pontos luminosos que cercavam a lua cheia. O vento soprava, esfriando ainda mais a noite, porém eu não me importava. Estava feliz. Fazia questão de sentir a brisa gelada bater em meu rosto. Por muitos meses me privei de sentir tal sensação e, devo dizer, era maravilhoso.
Sentia falta dos velhos tempos. Claro que era muito melhor quando eu ainda tinha uma companhia. Mas eu estava decidido a esquecê-la. Sophia não fazia mais parte da minha existência, e eu já havia aceitado tal fato.



- by Nique - 
- O Filho da Noite -

quinta-feira, março 17, 2011


♫"O macaco perseguia a lontra
Em volta do pé de amora.
O macaco achou divertido.
Mas a lontra - pluft! - foi embora."

"Um centavo por um novelo de lã,
Um centavo por uma agulha, a toda hora!
É assim que o dinheiro se vai.
E a lontra - pluft! - foi embora."

"Subindo e descendo a rua da cidade,
Entra tostão, sai tostão. Ora, ora!
É assim que o dinheiro se vai.
Mas a lontra - pluft! - foi embora."

"Duzentos gramas de arroz barato,
Duzentos gramas de melado.
Agora, misture bem para ficar gostoso,
Mas a lontra - pluft" - foi embora." ♫

- Sidney Sheldon -    
- Conte-me seus sonhos -

Sonhando pesadelos


Sonhos? Ou o por que destes sonhos.
O que eles significam? Ou o que podem significar perante a situação.
Por que quando me deito à noite, desperto entre lágrimas? 
Ou o por que das lágrimas.

Sonhos. Uma palavra tão bonita e com um significado tão imenso. Infinito são os seus limites. Ele não os tem. E como poderiam? Como seria chato se nossos sonhos fossem limitados, não? Mas assim como todo o resto, não temos controle algum sobre eles.
E o que poderia ser mais assustador?
Quando esses tão queridos sonhos te presenteiam todas as noites não com paz ou felicidade. Mas sim com os seus mais terríveis medos. Quando se transformam em pesadelos.
O que poderia ser pior do que você ver, bem ali, diante dos seus olhos, todos os seus medos tomarem forma viva e virem atingir-lhe ferozmente?
Naquele momento, você não se sente num sonho. Você só vê que tudo aquilo que mais temia, agora é algo vivo, o qual você não tem controle algum.
E você pode acordar em desespero, em prantos ou com medo. E tudo que vão lhe dizer: "Foi apenas um sonho, um pesadelo."
Mas pra você não foi só isso. Você estava lá, viu com seus próprios olhos, sentiu o medo e a angústia... E ainda sente. Mesmo depois do despertar, da compreenção de que aquilo não foi real. Pra você foi. Porque você ainda sente seu coração bater desesperado, assim como sente que as lágrimas continuam escorrendo pelo seu rosto, mesmo depois de ter acordado.

quarta-feira, março 02, 2011

Será que você sabe?

Será que você sabe o quanto me machuca? 
Me entristece ter que aguardar ansiosamente até que você apareça.
E quando a hora chega... Você não está lá.

Se você for chegar às 15:00
Eu vou estar ansiosa desde às 14:00

Então não me faça esperar,
Ou não saia sem se despedir
Sem ter um bom motivo!

terça-feira, março 01, 2011

Meu ponto fraco


Você já sabe como me deixar feliz! ^-^
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Tá esperando o quê? >.<