Não seria eu mais o mesmo?
– Zafrina!
Ela parou á alguns passos á minha frente. Virou-se para me encarar. E o sorriso zombateiro em seu rosto fez-me sentir um idiota por fazer tal coisa.
– Sim?
– Você deixaria que um velho amigo apreciasse o melhor produto, com um presente de boas-vindas?
Ela olhou para a garota, parada a alguns passos de nós. Depois se voltou para mim, sorridente.
– Mas é claro que sim! Divirta-se!
Forcei um sorriso, agradecendo-lhe. E ela voltou a escorar-se no balcão, observando-me.
Atravessei o salão. Indo na direção da garota, mas parei ao seu lado.
– Pode me conseguir uma água? – pedi ao barman na bancada, em que a maioria dos jovens estavam escorados.
Ele concordou e saiu. Pude sentir os olhares das garotas sobre mim. Era fascinante como o simples fato de estar morto trazia para mim inúmera coisas que os simples mortais desejavam, mas não conseguiam com tal facilidade.
Arrisquei um simples olhar: todas ali sorriam para mim.
A garota morena colocou-se entre mim e a ruiva.
– Olá! – cumprimentou-me.
Não respondi.
Eu sabia exatamente o que fazer: olhei para a garota ruiva, bem dentro de seus olhos verdes como esmeraldas. Eu não saberia dizer qual seria o nome dela. Mas não foi difícil descobrir seu apelido, pois o garoto imaturo não parava de repeti-lo: Becky.
– Olá!
A morena fitou a amiga, boquiaberta. Olhava de mim para ela, e depois saiu bufando, irritada. Becky não respondeu. Apenas acompanhou a amiga com os olhos, depois os abaixou para seus próprios pés.
– Acho que sua amiga ficou chateada. – continuei.
– Ela vai superar. – ela sorriu, olhando para mim. – Sou Rebecca!
– Sylas. – falei, aceitando a garrafa de água que o barman me entregava.
– Nome diferente. – ela murmurou.
– Conheço pessoas com nomes mais engraçados que o meu.
– Seu nome não é engraçado. – ela protestou. – É legal, apenas… diferente.
– Eu sou diferente.
– Mesmo? Eu também.
Não entendi o que ela quis dizer com aquilo. Fiquei ali, paralisado, fitando-a. Em que sentido ela seria diferente? Saberia ela sobre o que eu me referia?
Após um minuto, ou talvez dois… Não sei dizer. Ela sorriu. Seus lábios pareciam terem sido desenhados em seu rosto, de tão suave que lhe era a expressão. Trazendo-me a mente uma imagem semelhante, onde Sophia sorria animada e despreocupada. Andando levente pelos aposentos, como se nada pudesse abalá-la ou... Balancei a cabeça, confuso, e lancei um olhar para Zafrina.
Um terrível erro, devo dizer.
Ela estava lá, observando-me. Quando a vi, ela acenou para mim.
– Sua amiga se veste de uma maneira estranha, não?
Voltei-me para Rebecca. Surpreso.
Certo. Zafrina não é bem o tipo que tenta parecer um humano normal. Ela ainda se veste com as mesmas roupas de sua época: vestidos longos, espartilhos, e todos esses outros acessórios. Muito discreta, não? Mas ela ainda se achava na moda. Por mais que naquela noite usasse a "moda" de uns sete anos atrás.
– Ah, Zafrina?! Ela é obcecada pela moda antiga! Ninguém consegue fazer com que ela tente se atualizar.
– Zafrina? – ela olhou curiosa para o outro lado do salão. – Ela é um dos seus amigos de nomes engraçados?
– É. Ela é sim. – sorri.
– Tem razão!… São realmente engraçados. – ela riu.
– Becky, já estamos indo! – a garota morena aproximou-se de nós. – Vamos?
– Ah, claro! – ela respondeu, em seguida virou-se para mim. – Foi bom falar com você, Sylas! Até outro dia.
– A gente se vê... – murmurei atônito.
Depois ela saiu. Acompanhando seus amigos. Saindo para a noite. Andei até a porta e parei. Pude ouvir o uivar da noite, juntando-se ao vento que lhe soprou os cabelos. Mas ela não olhou para trás.
Em que sentido ela seria diferente?
Zafrina parou logo atrás de mim, rindo, divertindo-se.
– Você está enferrujando, Sylas? Precisa de mais prática, não?!
- by Nique -
- O Filho da Noite -
Nenhum comentário:
Postar um comentário